quarta-feira, dezembro 20, 2000

Sobre a introdução do Comic Book de Rogério de Campos. A mini história do quadrinho underground que ele traça é interessante, mas o resto é meio esquisito. Tem uma boa dose de recalque no texto aonde ele acusa todos os quadrinhos de super-heróis de serem um lixo sem criatividade, acusa as revistas mainstreams de "terem vendido a alma em troca de um bilhete pra Hollywood" e o pior, diz que quadrinhos bons são literatura.

Veje bem, todos quadrinhos de super-heróis são ruins? Não, não mesmo. A maioria é ruim sim, mas e daí? Tem muita coisa boa! E Tom Strong do Alan Moore? E o Batman, a Elektra e o Demolidor do Frank Miller? E a Liga da Justiça do Grant Morrison? E os X-men da saudosa época do Chris Claremont (antes dele ficar maluco)? Hein hein hein? Mesma coisa se eu dissesse que todo filme de ação é ruim. Não são, existem uns ruins, outros bons (tipo os do tio woo).

É muita hipocrisia dizer que as hqs venderam a alma pra Hollywood. Fala sério. Não que eu ache as adaptações pro cinema boas, mais qualé? Todo mundo tem que comer e pagar aluguel. E quero ver o que ele me diz agora que o Ghost World do Dan Clowes está sendo adaptado pras telonas. Provavelmente deve estar gritando "A indústria de quadrinhos alternativos se vendeu a Hollywood!". Putz.

Quadrinhos bons são literatura? Não, nunca vão ser. Nenhum quadrinho vai ser literatura, quer saber por que? POR QUE QUADRINHOS SÃO QUADRINHOS, PORRA. É por isso que volta e meia esses quadrinistas alternativos, com toda a liberdade que eles tem, fazem um trabalho ruim. A primeira regra pra fazer um quadrinho bom, na minha opinião, é entender o meio. Quadrinho não é cinema, quadrinho não é literatura. É outra coisa, outra mídia, e deveria ficar feliz com isso. Ninguém deveria lutar pros quadrinhos serem reconhecidos como gênero literário, deveriam é brigar pros quadrinhos serem reconhecidos como quadrinhos.

Agora uma outra coisa sobre os undergrounds americanos. Parece que boa parte desse pessoal tem uma síndrome de Crumb. Como o próprio Rogério nota, a maioria das histórias é autobiografica e usa o próprio artista como personagem. E fica meio nisso, traumas infantis, desilusões amorosas, casos estranhos que aconteceram com o cara. Tudo bem pronto pra daqui a pouco alguém grudar um selo bem bonito na testa das hqs undergrounds como uma coisa "autobiográfica e instrospectiva". Cadê a variedade de gêneros, cadê?

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