segunda-feira, janeiro 22, 2001

Corpo fechado, de M. Night Shalayman

O sexto sentido era legal como um filme de sessão da tarde com um moleque engraçadinho, agora esse aqui já está no meu top 10 dos piores do ano. Caceta, é muito ruim.

Quer saber por que? Ok... Não se preocupem, eu não vou estragar o “final surpresa” que esse egípcio safado quer tornar sua marca registrada.

A idéia básica todo mundo já sabe: Bruce Willis é um homem indestrutível que é descoberto por Samuel Jackson, um homem com ossos frágeis que acredita que Willis seja o oposto exato de si mesmo (Indestrutível, branco, careca).

O roteiro é um lixo, um nada, qualquer coisa. Os personagens são fracos, sem profundidade e alguns claramente sem função no filme (como o filho bunda mole do protagonista). Algumas cenas são inacreditavelmente longas (a da sala de musculação), outras simplesmente implausíveis (a da cozinha, com o revólver). Já os diálogos conseguem ser tão ruins ou piores. Praticamente tudo que sai da boca do Samuel Jackson é medíocre.

A trama básica é imbecil, as soluções são bobas, o objetivo do filme é infantil. Ao que me parece, esse egípcio safado deve ter se achado um gênio depois de ser aclamado com o sexto sentido e perdeu a linha, se empolgou, errou a mão.

Isso tudo sem comentar sobre o aspecto “quadrinhesco” do filme, que merece uns dois ou três parágrafos só pra ele.

Em uma entrevista publicada na revista “Trailer”, distribuída gratuitamente nos cinemas da rede cinemark o diretor diz que não conhece quadrinhos e que nunca ligou muito pro assunto. O que me surpreende é que se ele assumidamente não sabe nada sobre o assunto, porque fazer um filme pretensamente baseado nas hqs? O resultado não podia ser outro, o cara erra feio, muito feio. Qualquer pessoa que leve histórias em quadrinhos a sério vai ficar ofendido com o filme.

Um exemplo? Samuel Jackson é um colecionador de hqs, só que não um nerd espinhento, mas um homem “sofisticado”, que expõe suas peças em uma galeria de arte, aonde elas podem ser apreciadas por visitantes metidos em smokings enquanto degustam canapés. Provavelmente uma tentativa de fazer os fãs de quadrinhos se sentirem lisonjeados. Isso é ridículo. Todo mundo sabe que esse tipo de exposição (pelo menos nos EUA) é realizado em convenções de nerds de todo o país aonde você pode encontrar neguinho fantasiado de homem aranha ao lado de fãs do Crumb ou do Art Spielgman. Provavelmente o egípcio safado quis dizer “Olha, quadrinhos são arte também” porque arte é aquilo que você encontra em uma galeria ou em um museu não é? Hein?

Outra coisa que quase me fez vomitar no infeliz que sentava na cadeira da frente do cinema foram as análises “artísticas” dos desenhos que o Jackson colecionava. Pérolas como “Olhem como o vilão tem a cabeça levemente maior que o corpo. Eles sempre tem a cabeça maior.” ou “Olhe como seus olhos são grandes, isso representa sua visão distorcida do mundo”. Vamos lá pessoal, que porra é essa?

O que me parece é que o egípcio safado resolver fazer um filme sobre quadrinhos. Então pediu referências e jogaram em cima dele vários livros sobre o gênero e as principais obras, então o infeliz leu. E entendeu tudo errado.

Só isso explica o Samú contando como que os quadrinhos são uma ligação com a forma antiga de contar histórias. Sim, porque de acordo com ele as histórias eram contadas com hieróglifos antigamente. É... Cultura oral? O que é isso?

Todo livro sobre quadrinhos começa com uma introdução aonde quase sempre se fala sobre hieróglifos. Isso por causa da narrativa visual da esquerda pra direita e devido a algumas inscrições babilônicas, se eu não me engano, que possuíam balões para indicar o que o personagem dizia. Mas o egípcio safado deve ter lido isso correndo.

Outra coisa. A trama básica, o plot, me lembra muito Watchmen. Toda a coisa de “como seria se um super-herói existisse no mundo real?” Mas enquanto em Watchmen o Alan Moore mostra como o conceito de super herói é ridículo na realidade, o egípcio safado esquece isso e continua achando que ele pode fazer o mesmo e parecer sofisticado. Não consegue, óbvio.

E sobre o final revelador, não esperem muita coisa. Como disse o Tom Leão na resenha do globo, o fim do filme prova que ler muito quadrinho faz mal a saúde. E olha que eu odeio as críticas do Tom Leão.

Nota 2.

Sem comentários: